Tuesday, June 12, 2007

Eros e Psiquê - Homenagem ao dia dos Namorados

Antigamente, vivia na Grécia um rei que tinha três filhas. Psiquê, a mais nova de todas, era de rara formosura. Quando passava pelas ruas, todos a cobriam de flores. Chegada a ocasião de se casar, o rei recebeu um misterioso aviso: que a levasse para uma montanha selvagem e a deixasse lá.

"Oh!", pensou o povo. "A nossa querida Psiquê vai ser sacrificada!"

E assim era, com efeito. O povo tinha dito que Psiquê era mais formosa que a própria Vênus, e esta, que era a deusa da beleza, quando isto ouvia, ficava irritadíssima. Tinha Vênus um filho chamado Cupido, e ordenou-lhe que casasse Psiquê com o homem mais feio da Terra. Então, quando Psiquê foi conduzida para a montanha, soprou um vento mágico que a levou para um palácio onde a donzela ficou aos cuidados de seres invisíveis que tocavam músicas encantadoras e lhe serviam deliciosos manjares. Em meio da obscuridade da noite, alguém foi dizer palavras ternas ao ouvido de Psiquê e ela ficou tão encantada que consentiu logo em ser esposa daquele que assim lhe falava. Então ele disse:

-"Psiquê, podes viver como mais te agradar neste palácio que construí para ti. Só uma condição te imponho: que não queiras ver o meu rosto."

O esposo de Psiquê era muito terno e amável para com ela, mas como só lhe aparecia de noite, a jovem sentia-se de dia muito só. Aguardava, ansiosa, o momento em que o sol desaparecia, pois, verdadeiramente, só a partir desse instante é que começava a sua felicidade. Certa ocasião, um vento mágico levou-lhe lá as irmãs. Esta visita causou-lhe grande desgosto, pois lhe disseram que, por ordem de Vênus, Cupido a tinha casado com um monstro. E acrescentaram:

-"Por isto é que ele não quer que lhe vejas o rosto."

Ela deixou-se dominar pelas insinuações das irmãs. Na noite seguinte, Psiquê acendeu uma lamparina e enquanto o companheiro dormia, foi ver-lhe o rosto. Qual não foi a sua surpresa ao se deparar com o mais belo semblante que já contemplara em toda a vida? Pois que seu esposo não era ninguém mais, ninguém menos que o próprio Cupido, deus do amor. Na sua alegria, levantou a lamparina tão alto que deixou cair uma gota de azeite quente que o despertou.

-"Ah, Psiquê!", exclamou. "Temos que nos separar. Agora saberá minha mãe que eu me apaixonei por ti e me casei contigo, em vez de te casar com um monstro. Adeus!"

E, espalmando as asas, voou e fugiu, deixando a pobre esposa inconsolável. Mas, na manhã seguinte, Psiquê dispôs-se, com grande coragem, a seguí-lo e, depois de ter vagueado tristemente pelo mundo, chegou ao palácio de Vênus, onde se deixou ficar como criada com a esperança de ver Cupido. Mas Vênus, mais zangada do que nunca, empregou-a nos trabalhos mais perigosos, para que neles encontrasse a morte. No entanto, Psiquê era sempre tão boa e vivia tão só que todos se puseram a seu lado e a ajudavam como podiam. E ela ia dando conta de todas as incumbências que recebia. Vênus, então, tramou um plano contra ela.

-"Toma este estojo de ouro", disse ela, "leva-o à rainha dos mortos e pede-lhe que to encha com o ungüento mágico da beleza".

Era, positivamente, a sua condenação à morte. Psiquê sabia que ninguém voltava da Terra dos Mortos e, no seu desespero, subiu a uma torre para de lá se precipitar e morrer. Mas as próprias pedras, cheias de compaixão por ela, disseram-lhe:

-"Não te desesperes. Acharás um caminho que conduz à Terra dos Mortos pelo monte Tártaro. Vai lá e leva duas moedas de cobre na boca e duas tortas de mel nas mãos".

Psiquê assim o fez, cheia de alegria. Chegou à Terra dos Mortos e Caronte, o barqueiro, fê-la passar o Rio da Morte, recebendo em paga uma moeda de cobre. Apareceu-lhe, em seguida, Cérbero, o horrível cão com três cabeças, guardião do Inferno; ela deu-lhe uma torta de mel e o cão deixou-a passar. A rainha dos mortos encheu-lhe o estojo de ouro com o tal ungüento de beleza e, em paga da outra moeda pôde Psiquê voltar à terra cheia de luz e de verdor. Mas a curiosidade feminina venceu a prudência. Psiquê abriu o estojo para ver o que continha. Era exatamente o que Vênus esperava. O estojo estava cheio de vapores venenosos, os quais envolveram o rosto de Psiquê e a fizeram desfalecer.

A pobre caiu sobre a erva; mas Cupido que a tinha seguido foi em seu auxílio e, dissipando os vapores do rosto da jovem, tomou-a nos braços e, batendo as asas, levou-a para o seu palácio encantado. E ali viveram juntos, felizes para sempre.

A história de Cupido e Psique é, geralmente, considerada alegórica. Psique em grego significa borboleta como alma. Não há alegoria mais notável e bela da imortalidade da alma como a borboleta, que, depois de estender as asas, do túmulo em que se achava, depois de uma vida mesquinha e rastejante como lagarta, flutua na brisa do dia e torna-se um dos mais belos e delicados aspectos da primavera. Psique é, portanto, a alma humana, purificada pelos sofrimentos e infortúnios, e preparada, assim, para gozar a pura e verdadeira felicidade.

No comments: